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Análise: No Man’s Sky mostra que tamanho não é documento

Assim que fora anunciado há 3 anos, No Man’s Sky trouxe um novo conceito de jogo para o mercado. Muitos títulos tinham o mesmo tema, exploração no espaço com elementos de survival, mas nenhum tinha almejado alcançar uma escala tão grande quanto o jogo da Hello Games. Aos poucos, teaser, trailers e imagens de No Man’s Sky foram reveladas, mas a dúvida de como o jogo funcionaria de fato permanecia. Agora, após seu lançamento (e um respeitoso tempo de análise), pudemos tirar nossas conclusões sobre o título. Leia abaixo nossas impressões.

Produtora Hello Games
Distribuidora Sony Interactive Entertainment
Lançamento 09/Agosto/16
Espaço em disco 3,4 GB
Plataformas lançadas PS4, e PC
Localização Legendas em português

 

Uma ideia muito ambiciosa

Vamos lá, No Man’s Sky tem 18 quintilhões de planetas. São 18 zeros depois do 18. Esse é ponto de partida para se entender a escala do jogo. Desde pequeno, eu imaginei como seria quando chegasse a época em que os jogos simplesmente não tivessem texturas como horizonte e limites de mapa. Pensava: “Que legal seria se eu pudesse alcançar aquele vulcão que solta lava lá no final”, ou então: “O que deve ter depois dessas estrelas?”. Minha resposta era sempre a mesma: “Nada”. A partir disso eu imaginava e criava mistérios nesses lugares místicos que no fundo não passavam de uma textura bonitinha. No Man’s Sky, entretanto, foi o primeiro que me deu a possibilidade de explorar o horizonte infinitamente. Finalmente, eu podia alcançar o vulcão, subir às estrelas e descobrir todos os lugares místicos que sempre sonhei. Com sua nave, o jogador tem a possibilidade de simplesmente apontar para um lugar e viajar para ele em busca de tesouros, mistérios, e histórias. O universo é livre para ser explorado, basta querer.

Não pense, contudo, que essa liberdade seja só maravilhas. No primeiro momento, é inspirador, liberdador, filosófico poder ir para qualquer lugar e descobrir uma fração matematicamente insignificante do universo criado pela Hello Games. Cada lugar, criatura e mineral que descobrimos nos faz pensar quais outras estão por aí para ser descobertas. Isso nos faz pular de planeta em planeta procurando por mais e mais até chegar um momento em que nos perguntamos: “Beleza, show. E aí? =)” Nesse momento, percebe-se que o excesso de liberdade e escala monstruosa do jogo são ao mesmo tempo pontos muito positivos e negativos. No Man’s Sky é uma dualidade de emoções. Aquele meu sonho de explorar os horizontes se voltou contra mim, já que o horizonte na minha mente era muito mais místico e cheio de segredos do que eu imaginava.

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Mas e aí, como é jogar No Man’s Sky?

Bom, vamos parar de filosofar um pouco e vamos para o jogo de fato. É difícil de colocar o título em algum gênero pré-estabelecido, mas podemos pegar um pouco de cada um e montar um gênero próprio No Man’s Sky. Sua mecânica se resume em mistura de First Person Shooter, Survival, Exploração Mundo Aberto e Nave (no seu nível mais básico). O jogo não é excelente, porém, em nenhum desses pontos. Ele somente bebe dessas fontes com o intuito de fazer uma mistura bem básica de tudo isso.

Começamos o jogo em um planeta aleatório do universo com nossa nave destruída. Devemos, então, buscar minerais e materiais nesse planeta para reconstruir as peças da mesma para que possamos sair dele. Nesse ponto o jogo se resume a maravilhar-se com a beleza de um universo procedural e procurar minerais. Com uma pequena pistola mineradora a laser, aponta-se para pedras, plantas e criaturas para obter vários diferentes elementos da tabela periódica do jogo. Com esses elementos, conseguimos reconstruir nossa nave, melhorar nossos itens e começar a aventura pelo primeiro sistema (dentre os muitos que serão descobertos com suas células de dobra).

Diferentemente do que se pensava, No Man’s Sky não se resume totalmente a explorar livremente. O jogo traz dicas e guia o jogador para locais específicos que o farão descobrir a “história” do jogo (coloco história entre aspas porque a mesma não se trata de um roteiro propriamente dito, e sim de um direcionamento). Daí o jogador vai explorando, minerando, descobrindo locais, espécies e plantas infinitamente até um momento em que não suportamos mais o fardo da exploração. Somos Pedro Álvares Cabral chegando às Índias mil vezes até não aguentar mais. O sentimento de beleza da descoberta vai sendo perdida, já que a mesma sensação é repetida eternamente até não ser mais tão bela.

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A arte de um jogo feito por números

Sou muito fã de jogos, já que os considero uma junção de muitas formas de arte diferentes e sublimes. Misture a criatividade e perspicácia de músicos, roteiristas, designers, modeladores, programadores e muitos outros e teremos uma experiência de descobrimento e diversão na arte. No Man’s Sky, todavia, nos faz entrar nas velhas questões: “Qual o significado da arte? Ela pode ser feita por máquinas?”

Além dos códigos, nada do que se encontra em No Man’s Sky foi criado por um ser humano. Tudo é feito de forma procedural por meio de algoritmos, desde os planetas até a própria trilha sonora. Nesse sentido, tenho muitas críticas e um elogio. O jogo todo peca muito em personalidade, provavelmente pelo fato de ele te guiar por um universo extremamente robótico. É completamente compreensível que um jogo com uma escala tão grande falte com polimento e carinho, mas talvez fosse mais sensato trabalhar em um projeto menos ambicioso com o intuito de aparar as arestas e dar mais personalidade e imaginação aos personagens, criaturas e ambientes percorridos.

Quanto à trilha sonora do jogo, a escolha por uma criada de forma procedural foi muito acertada. Como um músico, prezo muito pela qualidade das trilhas escolhidas e dos efeitos sonoros que complementam o jogo. Afinal, a música do jogo se torna um personagem (vide Bastion, Furi e muitos outros jogos), já que ela transmite sensações e determina o tom que se quer dar a uma situação. Em No Man’s Sky, não seria possível de se criar uma trilha sonora própria de forma fechada. Cada planeta e situação tem uma nuance diferente (por mais que sejam poucas diferenças em muitos momentos). A sensação de descoberta é aprimorada através de uma sequência de músicas aleatória, já que cada encontro é acompanhando de uma trilha que se encaixa bem. Aqui, a equipe da Hello Games merece uma salva de palmas, já que o código para a criação das músicas em tempo real foi bem feito.

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Conclusão

No Man’s Sky é um jogo que abre novas possibilidades para a criação de jogos. Talvez estejamos observando uma nova etapa, uma revolução na forma como jogos de exploração são feitos. Entretanto, o título está apenas iniciando essa transição. Apesar de trazer muitas horas de exploração, falta polimento, carinho e principalmente, conteúdo. É possível que novas possibilidades sejam acrescentadas ao jogo com o tempo, como um sistema de crafting melhorado, sistema de construção, criação de civilizações, e outros pedidos da comunidade. No momento, No Man’s Sky é uma grande ideia com um futuro muito promissor, não muito mais que isso. Sua liberdade é sua força e fraqueza ao mesmo tempo. O ciclo de vida do jogo e sua qualidade vai depender muito da vontade da Hello Games de acrescentar mais conteúdo e dos feedbacks da comunidade. No Man’s Sky, então, poderia ter muito mais, mas acaba ficando com 7 regulares fichas.

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Bernardo Cortez

Formado em Relações Internacionais, Bernardo aproveitou o dom de escrever para algo útil. Músico, viajante, cronista e amante de qualquer coisa que seja relacionada a jogos, seu sonho é ser jornalista na área. Tem um carinho especial por jogos que tragam o melhor de todas as formas de arte que os englobam.

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