ANÁLISESNOTICIASPCPLAYSTATIONPS4REVIEWSSem categoria

Análise: STRAFE é o melhor jogo de 1996 feito em 2017

Quando a desenvolvedora Pixel Titans anunciou em 2015 seu Kickstarter para o desenvolvimento de Strafe, a promessa era que entregariam um sucessor dos gloriosos jogos de tiro em primeira pessoa da década de 90. Os vídeos promocionais em live action produzidos pelos desenvolvedores eram de altíssima qualidade, de um jeito bem trash (você confere um deles abaixo), e aumentavam o hype em torno de um jogo de FPS frenético raiz. Dois anos depois, o jogo é lançado para PC, OS X e PS4, apresentando uma face um tanto quanto diferente do que esperado, levando em consideração o marketing.

Acontece que Strafe é, primordialmente, um game do gênero Roguelike. Roguelikes são jogos caracterizados por mapas aleatórios e uma única vida, mas que possuem algum tipo de crescimento de stats permanente, para que o jogador possa ter um caminho mais fácil para progredir em tentativas posteriores. O problema é que esse estilo de jogo exibe um forte contraste com a natureza dos FPS que o game tenta emular. A eletricidade presente em Doom e Quake não corresponde ao ritmo metódico necessário para ser bem-sucedido em Strafe. Não obstante, essa fusão de jogo de tiro em primeira pessoa e Roguelike é única e a originalidade da abordagem de Strafe é incontestável e refrescante.

Existe muito pouca história em Strafe, mas francamente ela não faz falta. O protagonista sem nome é uma espécie de lixeiro espacial, que recolhe sucata em troca de dinheiro. A aventura começa quando o jogador é enviado para a nave Icarus, em busca de mais sucata, mas o que encontramos é um apavorante e apocalíptico cenário em que os corredores da nave estão preenchidos de mutantes, zumbis, alienígenas e monstros.

3081513-e3_strafegp_20160615site

A variedade não para por aí: o jogo é dividido em 5 “capítulos” cada um com uma ambientação diferente. Existe a nave Icarus inicial, um planeta alienígena desolador, uma espécie de laboratório secreto e até uma cidade contemporânea. Esses estágios são claras homenagens à clássicos do gênero FPS como Half Life e Duke Nukem (com direito a mictórios interativos). A progressão na campanha também traz novidades na relação de inimigos, que são acrescidos ao plantel conforme o jogador se depara com novos cenários. O que deixa a desejar é a IA dos mesmos, que funciona apenas na base do infame “kill-kill”. Com pouquíssimas exceções, todos os inimigos perseguem implacavelmente o jogador, alguns com ataques somente à queima-roupa e outros com ataques à distância. Apesar da “casca” distinta, 90% dos adversários se comportam da mesma maneira, ainda que tenham resistências diferentes às armas do protagonista.

Existe uma certa quantidade de armas em Strafe, embora ao começar uma partida você possa escolher uma entre apenas três, que será a sua ferramenta principal para sobreviver. As escolhas são uma SMG imprecisa com dano elevado, uma escopeta eficiente somente a curtas distâncias e um rifle de energia semi-automático poderoso, mas focado em um inimigo por vez. Ao longo de uma partida, entretanto, você encontrará diversas armas que podem compor o seu arsenal, mas seu uso é bastante limitado uma vez que possuem um único cartucho de munição que não pode ser recarregado – a não ser que você se depare com a mesma arma novamente, o que preenche seu único cartucho. Essa decisão de design deve ter sido tomada para evitar que o jogador fique muito poderoso e as fases deixem de ser um desafio tão grande. Além disso, cada arma possui dois modos de tiro; um principal e um secundário, que aumentam um pouco a variedade do combate, que mesmo assim deixa a desejar pois, como dito, os inimigos agem como zumbis e possuem comportamentos bastante previsíveis de hordas. A arma principal também pode ser alterada gratuitamente em pequenos quiosques espalhados pelos estágios (com limite de uma modificação por quiosque), que acrescentam efeitos aleatórios às armas como um tiro duplo, ou uma munição que persegue os alvos mas se move mais lentamente. Caso não goste da “melhoria” implementada, você pode usar o mesmo quiosque para desfazer a mudança (e ainda bem que existe o botão “desfazer”, pois algumas modificações podem acabar com o seu jogo).

Para facilitar sua sobrevivência, o jogador pode coletar sucata, que é solta por alguns inimigos derrotados aleatoriamente e pode ser convertida em munição, armadura ou em itens. O interessante dos itens é que alguns são persistentes, como a bateria que abastece um teletransportador, o que significa que se você gastou recursos para comprá-los, estes itens específicos ainda estarão disponíveis em partidas posteriores, oferecendo uma progressão artificial ao jogador e facilitando sua vida.

C_6zK8FUQAAaHDp

Strafe oferece um desafio significativo, como acontece em todo Roguelike. Decisões erradas e infortúnios no início de uma partida podem condená-la ao fracasso não muito mais a frente. Da mesma forma, uma partida que corra perfeitamente no começo pode ter um final inesperado e frustrante em apenas um confronto complicado ou com uma bobeada do jogador. O personagem sobrevive com uma barra de saúde e de armadura. Saúde pode ser recuperada com comida e a armadura em lojas automáticas que podem aparecer em algum ponto das fases (mas custam muita sucata) ou em raríssimos itens espalhados pelo cenário. Dessa forma, o jogo incetiva o jogador a não tomar riscos desnecessários para não se machucar, o que certamente pode enfurecer os jogadores que aguardam por uma experiência de FPS mais pura (o que, novamente, Strafe não oferece). Em alguns lugares, o jogo apresenta lojas para o jogador, onde é possível adquirir alguns itens, a maioria dos quais possui uma explicação muito breve e vaga para que faça sentido sem a ajuda de uma Wiki online, da troca de informações com outros jogadores ou na base da tentativa, o que também é padrão em Roguelikes.

Outra característica própria do gênero são os mapas aleatórios. As fases em Strafe são construídas de forma randômica quando o jogador as adentra. Com o tempo (e várias tentativas), fica claro os módulos usados pelo jogo para montar os estágios e o padrão torna-se um tanto quanto repetitivo e previsível. Some-se a isso um combate que também caminha para a repetição e você tem uma experiência um pouco mais automática do que a desejada para um FPS (ou um Roguelike). Outro ponto que julgo negativo é que o jogo não possui nenhum esquema de salvamento. A aventura completada em uma vida pode levar entre duas e três horas, mas que tem de ser completada de uma única vez, caso contrário você perde todo o seu progresso até aquele ponto. Acredito que um sistema de salvamento “salvar e sair” fosse bastante adequado à aventura.

STRAFE-game-video-1

Graficamente, o jogo possui um visual rasterizado, que é a aplicação de gráficos vetoriais sobre pixels, muito similar à Minecraft (e também muito comum em várias produções da Devolver Digital). A escolha deliberada não lembra tanto a abundância de pixels dos shooters dos anos 90, principalmente porque o cenário de Strafe possui uma resolução propositalmente bastante baixa. Entretanto, o jogo tem um aspecto bastante agradável, falando de uma maneira bastante mórbida: inimigos despedaçados, sangue exageradamente esguichado pelas paredes e a destruição causada nas fases é persistente e realmente dão gosto de serem observadas após praticamente qualquer confronto. Estranhamente, o jogo possui alguns problemas de desempenho no PC, com uma taxa de quadros que pode variar bastante e impactar significativamente a experiência do usuário, até mesmo em uma máquina parruda. É uma pena que isso aconteça em um jogo que depende tanto de uma contagem de quadros estável e que tenha gráficos relativamente simples.

Em suma, Strafe parece mas não é. Parece um clássico FPS da década original do gênero, mas é um Roguelike de tiro em primeira pessoa,um subgênero popularizado nesta e na década passada. Ainda assim, para os apaixonados por experiências desafiadoras, Strafe pode ser uma experiência singular e muito boa. Algumas escolhas de design impedem que o jogo tenha uma classificação melhor, bem como as pequenas falhas na performance. Além disso, a experiência como um todo pareceu-me pouco refinada, como se o jogo merecesse mais uns meses de desenvolvimento intenso até que se acertasse melhor o passo. Dito isto, esta é a experiência que temos e ela pode ser muito bem aproveitada.

{{

game = [STRAFE]

info = [Lançamento: 09/05/2017]

info = [Produtora: Pixel Titans]

info = [Distribuidora: Devolver Digital]

plataformas = [PS4, OS X e PC]

nota = [3/5]

decisão = [Um Roguelike original, mas dispensável]

texto = [Strafe diverte e frustra em igual medida]

positivo = [Gráficos divertidos]

positivo = [Ação frenética]

positivo = [Conceito original]

negativo = [Combates repetitivos]

negativo = [Pouca variedade de inimigos]

negativo = [Inteligência artificial pobre]

negativo = [Performance]

}}

Pedro Nogueira

Formado em Administração e em GunZ: The Duel. Rei dos FPS e o Toretto dos jogos de corrida no site. O nerd/entusiasta do PC Master Race, responsável por análise de periféricos e hardware. Quebra um galho de streamer lá na twitch.tv/ultimaficha.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo