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Análise: A experiência completa e solitária que é Lone Echo

O cenário de jogos VR, mesmo um ano após o seu início oficial com o lançamento do Oculus Rift, ainda carece de experiências exclusivas ou desenvolvidas especialmente para ele, que tenham a duração e características de um jogo tradicional. A Ready at Dawn (criadores da experiência quase cinematográfica de The Order: 1886), em parceria com a Oculus Studios, resolveu preencher esse vácuo com Lone Echo, um jogo de exploração narrativa exclusivo para Oculus Touch.

Lone Echo

Você é Jack, um androide responsável pelas operações da estação espacial mineradora Kronos, que orbita Saturno. Entre os vários robôs idênticos a você, Jack se diferencia por ter estabelecido um relacionamento próximo com Olivia Rhodes, a astronauta capitã da estação espacial, e desenvolvido nuances de personalidade que o aproximam, mais do que qualquer um de seus pares, dos seres humanos. Esta “evolução” no programa de Jack não passou despercebida pelos administradores da estação, que planejam realocar Olivia e deixar Kronos inteiramente sob a administração dos androides. Em um dos dias finais da missão, um evento curioso acontece: uma anomalia desconhecida em algum lugar da superfícies de Saturno aparece de repente e uma onda de choque desabilita boa parte dos sistemas da estação. Os últimos momentos de Olivia e do androide juntos são então marcados pelas mundanas tarefas de reparo e por explorar mais a fundo a anomalia.

A Ready at Dawn realmente se empenhou em criar o universo de Lone Echo. Praticamente tudo pode ser escaneado pelo jogador e informações bem completas sobre a composição e função do que aquilo faz aparece para o jogador. Da mesma forma, a trama em Lone Echo possui vários elementos que vão se desenvolvendo enquanto você descobre mais sobre a vida de Olivia, sobre a corporação que criou os androides (que são “coletáveis” opcionais, na forma de registros que podem ser escaneados) e, claro, sobre a anomalia, que de longe é o maior mistério da história. Não chega a ser o ponto alto do jogo nem é particularmente executada com maestria, mas a história cumpre bem o seu papel.

Lone Echo

Visualmente o jogo é muito bonito, com uma sensação de escala impressionante fora da estação. Com a minha placa AMD R9 390, não tive problemas de performance (embora a resolução dinâmica tenha entrado em ação diversas vezes), mas existem relatos de jogadores e reviewers que tiveram problemas com engasgos. Não foi o meu caso, mas, apesar da boa performance, as quedas de resolução podem atrapalhar quando você tenta ler alguma coisa que esteja um pouco mais distante. De qualquer forma, essas quedas bruscas evitam que a taxa de quadros despenque e prejudique a jogabilidade.

Os personagens, nas figuras de Jack e Olivia, já tem um relacionamento no início do jogo após se conhecerem por meses antes do início do jogo. Trata-se de um relacionamento verossímil (isto é, tão real quanto a relação entre uma máquina e um ser humano pode ser) em que podemos escolher a maneira como interagimos com a astronauta escolhendo entre três posturas durante alguns diálogos: uma mais humana, a outra mais  robótica ou a terceira, que é basicamente ficar em silêncio e fazer Olivia se sentir ridícula por estar conversando com uma calculadora com braços e pernas. Essas opções de interação não alteram o rumo da história nem do relacionamento dos dois, mas ao menos constituem uma outra interação possível do jogador ao definir a personalidade de Jack.

Lone Echo

Podemos tentar atribuir o fato de poucas experiências AAA existirem no cenário da Realidade Virtual a algumas limitações inerentes à plataforma, como o motion sickness experimentado quando o jogador quando seu avatar está se locomovendo mas seu corpo está na verdade parado. A solução de Lone Echo para essa questão é simples e elegante: o avatar não anda. Existe muita liberdade de movimento no jogo (que se passa em um ambiente de gravidade zero), mas ela é feita de duas maneiras pouco tradicionais – agarrando-se a superfícies e as empurrando, para ganhar momento, ou com jatos acoplados a seus pulsos. São dois métodos divertidos e simples (embora exijam um tempo para se acostumar) de se locomover que contornam um notório problema da simulação virtual. Além disso, se encaixam perfeitamente na ambientação do jogo.

As interações com o ambiente são completamente feitas através de movimentos com o controle Touch. Seja o ato de consertar um console de parede, conectando fios e substituindo chips, ou ao agarrar-se a um pequeno veículo espacial, todos simulam perfeitamente os movimentos reais que uma pessoa faria nessas situações. É indescritivelmente imersiva a sensação de deslizar pelo ar até um painel de controle e interagir com seus botões com uma das mãos enquanto a outra se segura em um corrimão ao lado para diminuir a velocidade e ficar flutuando em um mesmo lugar. Jack conta com uma série de ferramentas que invariavelmente ajudam nos reparos da estação para avançar na história. Essas “habilidades” são desbloqueadas conforme a trama progride e faz-se necessário usá-las. O androide tem funcionalidades como um scanner de pulso (capaz de escanear e mostrar informações sobre quase qualquer coisa, como em Metroid), uma espécie de maçarico, múltiplos visores para situações diferentes e uma lanterna. Cada um dos objetivos pode envolver o uso de uma ou mais dessas ferramentas, cabendo ao jogador mantê-los em mente para resolver os desafios – que, infelizmente, nunca desafiam muito o jogador, ainda que o entretenham.

Lone Echo

Lone Echo coloca o jogador em situações tensas, como um momento em que o sistema de mineração de asteroides da estação entra em curto, o que resulta em lâminas lasers rodando perigosamente por um corredor, dificultando o acesso ao terminal que desativa o sistema que está inconvenientemente localizado na outra ponta dele. Em outros momentos, as tarefas são mais tranquilas, executadas com todo o tempo do mundo em um ritmo de manutenção de rotina, que normalmente permitem ao jogador explorar com calma e conversar com Olivia enquanto faz o trabalho. De toda forma, ainda que as situações apresentem riscos, como “morte” por radiação, amputação e esmagamento, não há nenhum tipo de punição: a consciência de Jack é imediatamente transferida para outro “corpo” que é dispensado da estação de androides mais próxima e já estamos de volta a ação.

Além da campanha single-player, o jogo também tem um modo multiplayer (que pode ser adquirido separadamente), o Echo Arena. Bastante simples mas muito bem pensado e perfeitamente funcional, o Echo Arena funciona como um esporte de bola (no caso, de disco), com “gol” dois times adversários. Consiste em arremessar um disco no gol adversário (um pequeno aro losangular) para marcar pontos. Enquanto isso os jogadores podem interagir entre si fazendo passes, atrapalhando os adversários ao se arremessarem contra eles e “pegarem carona” com um jogador que esteja passando por perto numa velocidade muito maior. Todos os jogadores são androides da mesma classe de Jack do single-player. Divertido, porém desafiador (demora bastante pra pegar o jeito e fazer arremessos precisos enquanto se desloca com velocidade), Echo Arena é uma excelente adição ao jogo.

Lone Echo

Lone Echo ganha pontos especialmente por contornar com sagacidade as limitações impostas pela tecnologia da realidade virtual e por investir numa experiência Triple A completa, com a inclusão de um modo para vários jogadores diferenciado. O jogo pode durar entre 7 a 9 horas na minha experiência, mas, apesar de alguns coletáveis que podem ajudar a elaborar ainda mais a história, não há maiores motivos para jogar a aventura novamente – restando apenas arriscar-se no divertido Echo Arena. Com um pacote razoavelmente completo como esse, a Ready at Dawn acertou a mão em um jogo que é compra certa para os jogadores que possuem um Oculus Rift + Touch.

{{

game = [Lone Echo]

info = [Lançamento: 20/07/2017]

info = [Produtora: Ready at Dawn]

info = [Distribuidora: Oculus Studios]

plataformas = [Oculus Rift + Touch]

nota = [4/5]

decisão = [Uma experiência impactante e recomendada]

texto = [A melhor experiência AAA]

texto = [exclusiva para o Oculus Rift]

positivo = [A trama que prende o jogador]

positivo = [Boas ideias para o VR]

positivo = [Cenário bem construído]

positivo = [Multiplayer criativo]

negativo = [Pouco desafiante]

}}

Pedro Nogueira

Formado em Administração e em GunZ: The Duel. Rei dos FPS e o Toretto dos jogos de corrida no site. O nerd/entusiasta do PC Master Race, responsável por análise de periféricos e hardware. Quebra um galho de streamer lá na twitch.tv/ultimaficha.

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