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Análise: Where the Water Tastes Like Wine é uma boa ideia mal aplicada

00Where the Water Tastes Like Wine é um jogo em narrativa desenvolvido e produzido pela Dim Bulb Games. Ambientado nos Estados Unidos durante a Grande Depressão, o jogo tem a proposta de trazer o folclore através das fábulas que não são contados nas aulas de história, aquelas que são passadas de pessoa para pessoa. Com uma lista de roteiristas e atores bastante grande, Where the Water Tastes Like Wine foi indicado a alguns prêmios, além de ter sido prestigiado pelo IndieCade, uma das maiores premiações de jogos indies do mundo. Quer saber se o jogo realmente mantém toda essa banca? Confira abaixo nossa análise:

Quem nunca ouviu uma história de uma pessoa e parou pra pensar: “Será que isso é verdade?”. É praticamente impossível saber de onde certos contos folclóricos vêm e como eles são originados. Isso acontece principalmente porque a partir do momento em que uma história é contada, ela deixa de ser propriedade do interlocutor para ganhar vida própria, absorvendo um pouco de cada uma das pessoas que a reconta. Where the Water Tastes Like Wine bebe desse conceito para nos trazer uma experiência narrativa voltada unicamente para a beleza do folclore, a sabedoria do povo.

Assim que iniciamos o jogo, somos apresentados ao enredo da obra. Em uma partida de Poker em meio à Grande Depressão, somos derrotados por um ser paranormal que nos condena a perambular pelos Estados Unidos coletando histórias. Não há qualquer informação de como podemos nos livrar da maldição ou o que acontecerá caso coletemos todas as histórias. Tudo o que sabemos é que nos transformamos em um ser paranormal que perambula com sua trouxa nas costas. A partir desse breve momento de contextualização do enredo, somos lançados ao território dos Estados Unidos de forma livre com o único objetivo de ouvir as histórias das pessoas, interagir com elas, as retransmitir, e observar a mudança das mesmas a partir do momento em que são contadas novamente por outras pessoas. Nosso personagem em forma de esqueleto, que pode ser interpretado como a personificação do folclore por si próprio, nada mais faz do que andar pelo mapa dos Estados Unidos, visitando suas cidades e conversando com outras pessoas.

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Em um primeiro momento, ficamos um pouco perdidos com o caminho que temos que seguir, já que o jogo não explica muito o que fazer. Entretanto, depois percebemos que a ideia é exatamente essa. Por meio de um mundo aberto (país, no caso), podemos ir para qualquer um dos cantos dos Estados Unidos, do Maine à Califórnia, conforme quisermos. Ao mesmo tempo em que podemos nos interessar por uma história em específico de um dos dezesseis personagens existentes no jogo e segui-la, também podemos ir andando pelos locais que mais nos interessam e ouvir histórias que se relacionam com as características de cada região. Naturalmente, ouviremos mais histórias de cowboys na região do Meio-Oeste americano do que em Nova Iorque, onde provavelmente saberemos das ações questionáveis de um investidor sórdido.

A partir disso, as muitas histórias do jogo vão se desenvolvendo. Não há um arco central a ser seguido, cada uma das tramas do jogo foi escrita de forma completamente independente por uma lista de talentosos escritores que incluem Emily Short (Rock, Paper, Shotgun), Gita Jackson (Kotaku), Leigh Alexander (Gamasutra), Cara Ellison (The Guardian), e Austin Walker (Vice). Isso faz com que sigamos o caminho que quisermos, explorando as histórias que acharmos mais interessantes. Contudo, ao mesmo tempo em que esse tipo de proposta de roteirização independente traz variedade e proporciona um toque pessoal a cada uma das histórias, ela também traz o risco de nos depararmos com contos extremamente aquém do nível geral do jogo. E, infelizmente, isso acontece muito mais do que gostaríamos. Por mais que nos sintamos interessados por algumas boas histórias, em muitos momentos é difícil ser levado por alguns diálogos e conversas desinteressantes ou que não acrescentam nada ao seu leque de histórias em um primeiro momento. Cada história que coletamos é representada por uma carta relacionada ao teor da história. Por exemplo, histórias sombrias provavelmente aparecerão na carta do Demônio, enquanto histórias de paixão serão encontradas na carta de amor. Ainda que a quantidade de cartas e contos seja extremamente grande, são poucas as que realmente interessam.

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Where the Water Tastes Like Wine realmente brilha na sua atuação e trilha sonora. A lista de atores chamados para o jogo é de peso, passando por Cissy Jones (Firewatch), Melissa Hutchison and Dave Fennoy (The Walking Dead), Keythe Farley and Kimberly Brooks (Mass Effect), Sarah Elmaleh (Gone Home), além da ilustre participação do músico Sting. Por mais que não nos interessemos por algumas histórias em específico, é inegável que a dublagem seja impecável, com vozes fortes e distintas. Além disso, a trilha sonora original de Ryan Ike, que se adequa a cada região por onde passamos, é praticamente uma aula de música, cobrindo gêneros como folk, bluegrass, blues, jazz, gospel, mariachi, música cowboy, e Diné (música Navaja). A junção da música muito bem orquestrada com a bela atuação dos atores se encaixa muito bem com a estrutura narrativa de cada uma das histórias.

O design do jogo consiste de uma combinação entre desenhos que lembram esboços com um mundo 3D aberto. Durante o gameplay, o visual vai alternando entre o grande mapa livre dos Estados Unidos e os belos desenhos que mostram as cidades, os personagens e as histórias que ouvimos. Agora, por mais que os desenhos tragam uma pegada artística para o jogo, os gráficos do mundo em 3D de Where the Water Tastes Like Wine não agradam aos olhos. A impressão que temos é de certo amadorismo. As texturas são estranhas e chapadas, podemos perceber claramente o plano rudimentar no horizonte limitando a distância da visão e os modelos das cidades, árvores, carros são muito pobres. A inconsistência da arte do jogo incomoda, já que muitos dos desenhos a mão são extremamente interessantes, bem feitos e detalhados, enquanto todo o mundo em 3D lembra um jogo de extremo amadorismo.

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Em suma, como um amante de bons contos, gostei da ideia de descobrir histórias de forma livre e vê-las mudando ao longo do tempo, mas infelizmente, Where the Water Tastes Like Wine parece ter perdido muito tempo querendo fazer uma quantidade absurda de histórias e muito pouco as deixando mais intrigantes. Bons foram os tempos em que fomos agraciados com The Witcher 3, em que muitas sidequests nos deixavam simplesmente fissurados para saber o que aconteceria depois. Por mais que algumas histórias de Where the Water Tastes Like Wine realmente sejam boas, a sensação geral é a de que o jogo infelizmente deixou a desejar.

{{

game = [Where the Water Tastes Like Wine]

game = []

info = [Lançamento: 27/02/2018]

info = [Produtora: Dim Bulb Games]

info = [Distribuidora: Dim Bulb Games]

plataformas = [PC]

nota = [3/5]

decisão = [Aguarde uma promoção]

texto = [Um jogo de narrativa]

texto = [com poucas histórias intrigantes]

positivo = [Arte em 2D]

positivo = [Trilha sonora perfeita]

positivo = [Ideia original]

negativo = [Gráficos em 3D ruins]

negativo = [Sem PT-BR]

negativo = [Histórias arrastadas]

}}

Bernardo Cortez

Formado em Relações Internacionais, Bernardo aproveitou o dom de escrever para algo útil. Músico, viajante, cronista e amante de qualquer coisa que seja relacionada a jogos, seu sonho é ser jornalista na área. Tem um carinho especial por jogos que tragam o melhor de todas as formas de arte que os englobam.

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