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Não consegue vencer um desafio no jogo? A gente te explica o porquê.

Já ficou preso em um chefe que parecia impossível de derrotar? Já esteve perdido em um cenário onde a saída não aparecia de jeito nenhum? E pior, de repente algum amigo ou até você mesmo resolveu o problema da maneira mais óbvia possível? Acredito que a resposta seja sim. Todos nós já tivemos crises de raiva por estarmos presos em quebra-cabeças “indecifráveis” , inimigos impossíveis de matar e até um simples item que não há como alcançar. E de quem é a culpa? A primeira resposta que damos com certeza é: “esse jogo ruim” . Mas não, a ciência da psicologia pode nos mostrar e explicar como esses fenômenos acontecem, as causas e até dicas de como amenizá-los. Nessa matéria traremos esses conceitos e tentaremos clarear os entendimentos do que acontece com você e seu amigo cérebro naquela hora que você acha que já esgotou tudo que sabia para resolver e passar o obstáculo que está “travado” .

“Freud explica”

É natural que quando estamos jogando, atingimos algum momento em que tudo parece estar perdido, que é impossível continuar, muitas das vezes realmente desistindo daquele jogo. Particularmente o meu interesse sobre o assunto surgiu após que algo no mínimo estranho aconteceu comigo. Não que não tenha acontecido a vida inteira (porque aconteceu) mas nessa vez ficou muito claro que tinha que ter uma explicação. Eu estava indo até bem em Dark Souls 3, que já é difícil por natureza, mas quando cheguei no Boss – Príncipe de Lothric eu simplesmente travei. Morri facilmente mais de 50 vezes seguidas, foi uma noite inteira perdida, o ódio pelo jogo, produtores e todos a minha volta já consumia minha alma. Desisti. Após exatamente uma semana resolvi tentar novamente e, pasmem, venci de primeira. Eu não conseguia acreditar como que algo tão difícil eu derrotei sem esgotar meus frascos de Estus (soará familiar para quem jogou) . Desde então comecei a reparar quando isso acontecia.  Por mais que esses momentos soem como aberrações, existem dois conceitos psicológicos que podem explicar o motivo: fixação funcional e esquema.

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Dark souls 3

Fixação funcional é quando nossa capacidade criativa é afetada e começamos a ver os objetos com sua função única e básica, por exemplo, uma cadeira é uma cadeira e serve apenas para sentar. Deixamos nosso lado criativo de lado e paramos de pensar “fora da caixinha” . A cadeira também serve para subir e pegar algo, para travar uma porta, etc. É natural que a medida que envelhecemos já adquirimos a fixação funcional, isso é inclusive usado para explicar a capacidade criativa das crianças em relação a nossa. Dê um cubo retangular a uma criança e ele se transforma facilmente em um caminhão, enquanto que para um adulto não passa de de um pedaço de madeira sem utilidade. Portanto, é natural que quando estamos em algum momento do jogo, perdemos nossa capacidade de pensar algo diferente que pode ajudar a solucionar o problema. O desenvolvedor do jogo nos ensinou a caçar com a flecha porém, quando vemos uma corda, não imaginamos que podemos cortá-la com a flecha também.

Já a teoria de esquema é basicamente as estruturas e conceitos que usamos para interpretarmos as informações que recebemos. Os desenvolvedores criam formas e maneiras de conduzir nossas ações que as transformamos em esquemas, ele coloca uma pedra no nosso caminho, nos ensina a pegá-la e usá-la para quebrar algo. Naturalmente você cria um esquema e nem percebe que já está atirando pedras em coisas diferentes na esperança de descobrir algo secreto, uma passagem, etc – mesmo sem o desenvolvedor te mostrar que isso pode acontecer. Todo mundo já deve ter tentado pular em uma plataforma mais distante que sua capacidade de pulo, escalar uma parede que não foi feita para isso, quebrar caixas sem motivo na esperança de alcançar o objetivo. Tudo isso baseado na “armadilha” de esquema que nosso cérebro nos apronta. As vezes resolver um quebra-cabeças, passar de uma fase, é bem mais simples do que parece.

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Mega Man X

Não se desespere

E para dificultar nossa vida mais ainda, o maior motivador para definitivamente não usarmos a criatividade e não perceber as peças que os esquemas nos pregam é a frustração. A frustração ativa o estresse agudo. Quanto mais frustrado nós estamos, menos temos a capacidade de analisar a situação e tomarmos as melhores decisões. Especialistas indicam que devemos encarar os problemas de frente e não desistir ou simplesmente evitá-los. A emoção positiva é fundamental para que consigamos pensar fora da caixa. Quando não conseguimos matar um chefe, resolver uma charada ou alcançar um objetivo, temos que dosar muito bem os sentimentos, porque esse controle emocional pode determinar se os jogadores se esforçarão ou se desistirão diante do problema. É nessa hora que costumamos  por a culpa no controle, no desenvolvedor, no jogo em si. Precisamos entender o que está acontecendo e o que estamos sentindo.

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Aquela dica preciosa

Claro que sabendo tudo isso, existem várias dicas que podemos seguir para facilitar nossa jornada. A primeira é analisarmos o porque estamos nos sentindo assim, lógico que os vídeo-games não são perfeitos – mas provavelmente a culpa não é deles. Outra dica importante é dar uma pausa. Quando entramos em fixação funcional, quanto mais tentamos observar o mesmo problema, mais difícil se torna sair dele. O seu cérebro precisa “parar, respirar e começar de novo” . Dormir também é fundamental, precisamos entrar no sono R.E.M.. O cérebro precisa de descanso, ainda mais quando o jogo consome uma forte gama de raciocínio. Lembre-se que para cada vez que você travou em algum momento, existe o mesmo número de sucessos obtidos, as vezes em dificuldades até maiores! Ou seja, você tem capacidade de conseguir.

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A vida continua…

Portanto não há uma solução única e definitiva mas existem muitas pesquisas a respeito, tanto do nosso comportamento diante dos jogos quanto de o que fazer diante das adversidades. Mas o fato de interpretarmos e sabermos o que está acontecendo, já nos ajuda a termos algumas respostas e a formularmos dicas e melhorar a tomada de decisão. Sempre iremos nos deparar com situações onde algumas pessoas conseguem um resultado mais rápido ou mais lento do mesmo desafio – o fato é que sabemos que isso é causado pela condição do seu cérebro no momento e que é natural. Não é preciso jogar nenhum controle no chão, chutar a TV ou arrancar os próprios cabelos.

Leonardo Coimbra

Mestre supremo do Ultima Ficha, não manda nem em seus próprios posts. Embora digam que é geração PS2, é gamer desde o Atari e até hoje chora pedindo um Sonic clássico e decente. Descobriu em FF7 sua paixão por RPG que dura até hoje. Eventualmente é administrador e marketeiro quando o chefe puxa sua orelha com os prazos.

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