Análise: Batman: The Telltale Series – Episódio três: Nova ordem mundial (Spoilers)
Na análise do terceiro episódio da franquia e para todos as partes subsequentes, faremos uma análise que envolverá spoilers de todo o capítulo. Para uma análise sem spoilers, confira nosso review da primeira parte. A análise da segunda parte, que pode ser encontrada aqui, também possui spoilers.
O terceiro episódio da série retoma os acontecimentos ocorridos após a invasão do Pinguim e dos Filhos de Gotham no debate entre os prefeitáveis. Com o assassinato de Hill, Harvey Dent é o único candidato restante e, portanto, o novo prefeito de Gotham. Essa vitória, como vemos, tem um gosto bastante amargo, pois além dos violentos acontecimentos que a geraram, a vida do mais novo amigo de Bruce Wayne muda por completo. Após ser infectado com a substância contrabandeada por Falcone e depois roubada por Cobblepot, Harvey demonstra-se completamente desequilibrado e parece ter desenvolvido uma segunda personalidade paranóica, mesquinha e violenta.
Iniciamos a aventura no hospital geral de Gotham. Caso você tenha optado por ajudar a Mulher Gato, ela estará com Bruce nos corredores do hospital com flores para Harvey, mas prefere não ver o estado do rosto dele, que foi desfigurado pelo Penguim. Mas se optou por ajudar Harvey (e impedido que seu rosto tenha sido queimado), Bruce irá sozinho ao hospital (e ele mesmo leva as flores ao amigo). Esse é prenúncio de que as escolhas derradeiras do episódio anterior foram, na verdade, vazias. O encontro entre os dois amigos transcorre mais ou menos do mesmo jeito independente da sua escolha derradeira no episódio passado, apenas com um tom mais melancólico se Harvey estiver desfigurado (ataduras em volta de sua cabeça impedem que o jogador veja o real estado do seu rosto). Durante a conversa, Harvey se mostra razoável, embora naturalmente irritado com o ataque. A primeira real escolha que lhe é apresentada é entre desligar a TV que fala sobre o atentado no debate ou deixa-la ligada, o que equivale a permitir que Dent extravase. Ao escolher a segunda opção já podemos ver um pouco da transformação da personalidade do personagem para alguém muito mais irritadiço e paranoico. Caso você opte por desligar a TV, Harvey agradecerá e a conversa avança para uma discussão sobre os pais de Bruce, o que aconteceria de qualquer maneira.
A cena seguinte pula para a noite, quando Batman é chamado via bat-sinal por Jim Gordon, do departamento de polícia. Jim pede a ajuda do herói com a Renee Montoya, a oficial que foi manipulada com o agente químico a matar Falcone no hospital. A policial, que estava de licença, buscando limpar seu nome, esbarrou em uma pista da localização da droga dos Filhos de Arkham e decidiu agir por conta própria. Durante a conversa, Jim recebe um chamado de que o prefeito está sendo atacado. Os dois estão em lugares distantes da cidade e Batman só pode ajudar um deles, enquanto a ajuda menos eficiente da polícia dá conta do outro. A segunda grande escolha do capítulo está aqui: ajudar Dent ou Montoya?
Ajudar ao novo prefeito é salvá-lo de bandidos que tiraram seu carro da estrada e salvar sua secretária no processo. A maior consequência disto é que, em seguida, ao encaminhar-se à Montoya, ela estará furiosa, pois um dos policiais foi morto, outros tantos feridos e os Filhos de Arkham fugiram. Além disso, Montoya deixa a cena com sua perigosa mentalidade de “acertar as coisas” que criaram essa situação. Caso opte por ajudar à policial primeiro, você a salva de um tiroteio com os bandidos (mas não chega nem perto de encontrar a poderosa droga da gangue). Indo para a cena do crime de Harvey, Batman chega em uma situação já sob controle, com os bandidos mortos pelo prefeito (mais um sinal do Duas Caras habitando sua pele). Como Montoya não aparece mais no episódio, é bom ficar de olho para as futuras ações da agente da lei a depender do que você decidir. Independente da sua escolha, Batman encontra-se com Gordon na última cena do crime que for e repassa a informação que descobriu momentos atrás: as comunicações da Wayne Tech, usadas pela polícia, foram sabotadas pelos Filhos de Arkham e estão comprometendo as operações policias.
Preocupado, Bruce vai se encontrar, à paisana, com Lucius Fox, o responsável pela tecnologia utilizada pela empresa (bem como pelas bat-bugigangas) na sede das empresas Wayne. No caminho, ele é interpelado pela presidente da empresa, Regina, que lhe informa que o conselho de diretores busca retirar Bruce do cargo por um tempo, apenas enquanto a crise com os pais dele ainda está na mídia. Você assente ou reage mal a isso, não faz muita diferença. Em seguida, em uma sala escondida no escritório do magnata, Bruce Wayne encontra-se com Lucius para discutir os aparelhos Wayne Tech hackeados. Na saída, A presidente da empresa mais uma vez retorna e lhe informa que Bruce terá de resignar-se de seu cargo de CEO na empresa. Para piorar, o substituto que encontraram é Oswald Cobblepot, o Pinguim (cuja identidade é desconhecida para todos os envolvidos, à exceção do próprio Batman). Aqui podemos receber Oswald com cortesia (embora isso resulte em uma cena incrivelmente irritante, com o bandido esfregando seu triunfo na sua cara) ou agredi-lo, o que culmina na expulsão de Bruce do próprio prédio pelos seguranças. Na saída, independente de sua escolha anterior, você se encontra com Lucius, que se oferece para sair da empresa e ir trabalhar na Batcaverna. Lá ele teria como desenvolver novas tecnologias ou realizar reparos no seu equipamento – mas você perderia a única pessoa em quem pode confiar no interior do prédio. Você, então, pode convencê-lo a permanecer na Wayne Enterprises, onde ele teria acesso a informações dos esquemas do Pinguim, mas não teria seu auxílio com os equipamentos da Wayne Tech. Qualquer que seja sua decisão, ela não impacta o presente episódio, devendo refletir de alguma forma na continuação.
De volta a Batcaverna, Bruce e seu mordomo, Alfred Pennyworth, patrulham as comunicações da polícia e prefeitura para saber até que ponto os Filhos de Arkham estão inseridos na rede. Mas enquanto os primeiros estão cientes da invasão dos caras maus em suas comunicações, Harvey, na prefeitura, não tem ideia e utiliza sua rede para planejar um contra-ataque à organização criminosa. Bruce decide se encontrar com seu amigo e avisá-lo. Essa conversa pode ser razoavelmente diferente se você optou por salvar o prefeito antes ou não. Caso o tenha salvo, a conversa começa normalmente, como os amigos que são nesse ponto. No entanto, ao inevitavelmente alertar Harvey de que está sendo vigiado, Bruce alimenta a paranoia do amigo, que começa a confabular sobre como ele deveria organizar uma força-tarefa independente da polícia, com poderes especiais para combater o crime e cita Batman como exemplo – só que reprovando a sua política de não matar. Em meio a seu transe, Bruce o interrompe e Harvey acorda, como que de um sonho e pede desculpas. Caso não tenha sido salvo pelo Batman, a conversa com Harvey já se inicia estranha e podemos ver a manifestação da dupla personalidade do prefeito claramente, com o Harvey discutindo medidas humanas e o Duas Caras apontando para soluções radicais que violam direitos básicos do cidadãos. É uma conversa num tom muito mais sinistro (com direito ao clássico jogo de cara-ou-coroa do vilão) mas que termina da mesma forma: com Harvey se desculpando pelo ocorrido e pedindo para que Bruce mantenha segredo sobre sua sanidade.
Após a conversa, Bruce avista um jornal com a entrevista da jornalista Vicky Vale com o mascarado líder dos Filhos de Gotham. Como Batman, ele se encontra com Vicky e a convence a lhe dar o endereço do local onde a entrevista ocorreu. Isso leva nosso herói a um depósito de trens fechado recheado de explosivos e com uma versão refinada da droga utilizada no debate, que agora pode ser absorvida pela pele. O plano dos Filhos de Arkham é um dos trens na estação mais movimentada de Gotham e espalhar a droga pela cidade – criando um caos inimaginável. Antes que possa fazer qualquer coisa à respeito, os bandidos, incluindo o líder mascarado, chegam ao depósito. E a surpresa: estão acompanhados de Selina Kyle, a Mulher Gato, que está concluindo o trabalho do primeiro episódio, de entregar a droga para os criminosos. Em um dado momento, o vilão mascarado ameaça a vida de Selyna com uma injeção da droga, mas é salva por Batman, que luta com os bandidos e acaba levando a pior. Ele é, por sua vez, salvo pela Mulher Gato e perde os sentidos.
Acordamos como Bruce Wayne na residência de Selina, onde ela cuida dos ferimentos do bilionário. Uma nova escolha que temos aqui é entre nos envolvermos romanticamente com a ladra ou não. Caso você busque esse envolvimento, os dois farão sexo, caso negativo, eles beberão juntos o resto da noite. Esta é mais uma escolha sem resultado imediato neste episódio, pois, no dia seguinte, Harvey irá até a casa de Selina, irá se deparar com Bruce de cueca e atacará os dois (ele até mesmo, mais uma vez, joga na moeda para decidir quem irá atacar primeiro). Nesse momento você pode optar entre revidar os golpes de Harvey ou apenas cansá-lo, o que é, até o momento, mais uma escolha sem efeito, pois concluirá da mesma forma, com o prefeito deixando o apartamento arrependido e envergonhado de seu ataque, mas claramente ainda mais perturbado pela personalidade do Duas Caras. Por fim, você pode escolher entre convidar Selina a vir passar um tempo na mansão ou deixá-la seguir com seus planos de sair de Gotham. Uma escolha interessante que pode render frutos nos próximos episódios.
Mais tarde nesse dia, Bruce faz seu discurso de saída como CEO da Wayne Enterprises. Aproveitando a atenção, Bruce pode denunciar Oswald como sendo o Pinguim e membro dos Filhos de Arkham ou ler o discurso preparado para ele, que é muito mais comportado. A primeira escolha fará com que Wayne seja retirado do púlpito pelos seguranças e levado à plateia e a segunda o fará descer por vontade própria. Como a última grande revelação do episódio, encontramos Vicky Vale na plateia e somos, inesperadamente, picados com sua caneta por ela. A repórter explica que a ponta da caneta continha a mesma droga usada no debate e revela ser a líder dos Filhos de Gotham, a mascarada com quem lutamos antes. Com a ação da droga atrapalhando os pensamentos de Bruce, a recém descoberta vilã o instiga a atacar Cobblepot na frente de todos e o episódio termina com o soco sendo desferido contra o vilão.
Este episódio, como os demais, leva em torno de uma hora e meia para ser completado, contando com duas lutas com QTEs e uma investigação de cena de crime. A surpresa da vez fica por conta da reviravolta da identidade de Vicky Vale, que muda de vez o destino de personagens consolidados da franquia Batman. Continuo achando esta a ideia mais genial da série da Telltale, sendo sempre capaz de nos surpreender. As decepções ficam por conta das promessas não cumpridas do capítulo anterior, principalmente da última escolha, que envolve salvar Harvey ou Selina do ataque dos Filhos de Arkham. Harvey Dent vai se tornando o Duas Caras claramente (por conta do efeito da droga, supõe-se) mesmo que não tenha tido o rosto desfigurado pelo Pinguim. E, caso opte por salvar Selina, não há a menor consequência física ou ao relacionamento dela com Bruce. O próximo capítulo tem como gancho o destino de Bruce Wayne após ter sido propositalmente injetado com a droga por Vicky e o que o herói fará ao chegar a, presumivelmente, o fundo do poço. De modo geral, esse é o capítulo que menos me agradou até agora pela maneira “Telltale-esca” de como a história não se adaptou a minhas escolhas. Veremos o que nos trará o próximo episódio.
