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Análise: Triture seus amigos por acidente em Mirage: Arcane Warfare

Quando em 2012, a então novata Torn Banner Studios lançou o Chivalry: Medieval Warfare, sua intenção era dominar um nicho muito pouco explorado: o de combates corpo-a-corpo em primeira pessoa. De lá pra cá, a desenvolvedora sagrou-se campeã do gênero e completou sua conquista com o subsequente lançamento do spin-off Chivalry: Deadliest Warriors, que reúne, além de cavaleiros medievais, vikings, samurais e piratas ao plantel de lutadores. Com seu domínio sobre as lutas da “realidade” assegurado, a Torn Banner empreendeu esforços para criar seu próprio universo em um novo jogo de combate em primeira pessoa e o resultado é Mirage: Arcane Warfare.

mirage arcane warfare

Em Mirage, somos introduzidos a um mundo fictício, porém fortemente influenciado pelas, mitologias e culturas árabe e persa clássicas. Nesse mundo, duas facções lutam pelo controle dos “Jinns”, ou Gênios, criaturas místicas com grande poder mágico. O Emirado Bashrani são habitantes da cidade de Bashran e a elite do povo, que utilizam o poder dos Jinns para fazer sua indústria e economia prosperarem. Do outro lado temos o Azar Cabal, composto de párias expulsos de Bashran por usarem a mágica dos Jinn indiscriminadamente. O membros do Cabal acreditam que compartilhar de uma ligação espiritual com os gênios e que usar seus poderes para o crescimento econômico é um sacrilégio. Essa é a história por trás do jogo, mas para a maioria dos jogadores, o Emirado e o Cabal são apenas o time Laranja e o time Roxo, e tá tudo bem com isso, afinal, trata-se de um jogo multiplayer que não se leva muito a sério. E isso se reflete nos personagens, sobre os quais falaremos logo adiante, dotados de personalidade exageradas e cartunescas e falas durante a batalha que evidenciam bem isso. Fãs de Chivalry folgarão em saber que o botão de “grito de guerra” (que ao ser apertado faz o personagem gritar longamente) está de volta e com muito mais variedade.

Cada uma das facções possui seis classes de personagens (para deixar claro, são as mesmas seis classes para as duas facções) com funções que variam de brutamontes com ataques longos e muitos pontos de vida a magos capazes de voar em seus tapetes e lançar feitiços defensivos e de cura. Uma novidade que o clima de fantasia predominante permite, é a variedade de aparência dos personagens. Taurants são altos e fortes, enquanto os Entropistas são baixos e gordinhos. Cada classe exerce funções bem definidas, como lutador tanque, ladina com ataques rápidos porém frágil ou o mago curandeiro com ataques à longa distância. Os biotipos diferenciados facilitam a identificação imediata dos personagens  por outros jogadores, o que não chegava a ser um problema em Chivalry porque este possuía apenas 4 classes e menos opções de customização para diferenciar os avatares. Em Mirage, existem várias opções de personalização de roupas, tatuagens e chapéus; e o jogo é extremamente generoso na maneira como dispende itens para o jogador ao fim das partidas, enquanto a experiência adquirida durante o combate é apurada e o nível do player sobe. Em poucas horas, seus personagens correrão por aí coloridos da cabeça aos pés e absolutamente ridículos pelo campo de batalha.

mirage arcane warfare

O básico do combate é praticamente igual ao presente em Chivalry. O botão esquerdo do mouse faz um ataque na horizontal, girar a roda do mouse para cima resulta numa estocada e para baixo em um poderoso golpe sobre a cabeça. Segurar o botão direito ergue a defesa. Da mesma forma, ataques diferenciados na diagonal também podem ser acessados (mais adequados para mouses que possuem mais botões nas laterais) e outras funções mais avançadas de combate, que dão uma boa profundidade para o gameplay, como segurar a tecla “R” para cancelar um ataque em andamento e enganar o oponente. As maiores novidades ficam para as magias das teclas “Q”, “E” e “F”, que introduzem um novo aspecto para os embates. Cada classe pode customizar os ataques mágicos, escolhendo uma entre duas magias para cada botão. Embora não existam armas secundárias ou utilizáveis (como as facas de arremesso ou as granadas de Chivalry), também é possível escolher a arma primária da classe, entre duas opções. Não é um sistema incrivelmente complexo, mas os ataques mágicos e a opção de câmbio entre eles manterá a sensação de novidade por algum tempo e instiga o jogador a jogar com novas classes, pelo menos para aprender como funcionam e ter um desempenho melhor contra elas. Ah, e o “fogo amigo” continua, o que significa que brandir a espada com abandono pode resultar em situações tragicômicas em que seus aliados são decapitados – sem querer, é claro.

Em Mirage, praticamente todos os tipos de modos de jogo competitivos estão na lista de chamada e presentes. Mata-mata em equipe, Captura de pontos, Captura de bandeira, Escolta de carga e Arena (cada um por si). Além desses tradicionais, existem os modos de cerco que fazem um retorno, ainda que reformulados, de Chivalry. Um time deve atacar, cumprindo uma variedade de objetivos para ganhar o jogo, enquanto o outro tenta resistir e acabar com os “tickets” (ou vidas) do inimigo antes que isso aconteça. No total, o game tem hoje nove mapas, mas apenas três possuem “estágios” diferentes para este último e mais incrementado modo de jogo. São vários cenários distintos e belos que diversificam a experiência do jogador.

mirage arcane warfare

Apesar do combate quase fotocopiado de Chivalry, não me senti plenamente satisfeito com o que experimentei em Mirage. As armas, talvez pelo design exótico que tende para o esguio, não possuem o mesmo peso (embora o impacto, auxiliado pela física de desmembramento, esteja plenamente preservado) e portanto balançá-las não me satisfaz como brandir uma Claymore em um cenário mais medievalesco. Isso não significa que os visuais de Mirage deixem a desejar de alguma maneira. O jogo utiliza a incontestavelmente Unreal Engine 4, que aqui demonstra toda sua flexibilidade ao renderizar cenários nababescos em ruínas de pedra, palacetes ou desertos de areia – porém, em certos mapas a taxa de quadros cai bastante, e pode atrapalhar a performance durante as partidas. Da mesma forma, os personagens e as magias também são muito bem feitos, bicromáticos e distintos, totalmente pertencentes àquele universo. É um jogo com uma identidade visual fortíssima.

Infelizmente, ao que parece, a ousadia da Torn Banner em investir todas as suas fichas em um jogo como Mirage: Arcane Warfare, não parece ter rendido frutos. Qualquer um pode ver a aposta que foi trabalhar em algo completamente novo e original como esse jogo ao invés de optar pelo caminho natural de uma sequência para Chivalry. E, por hora, a jogada não parece ter rendido frutos para a produtora: existe um baixíssimo número de jogadores online até mesmo durante horários de pico, como fins de semana à noite em quaisquer um dos servidores. Isso mundialmente, pois no Brasil, o cenário é desolador: apesar da Torn Banner ter preparado dezenas de servidores especificamente para nosso país, nenhum tupiniquim deu o ar da graça em momento algum durante o beta fechado, aberto ou após o lançamento (que este redator tenha presenciado). É especialmente triste que isso aconteça aqui tendo em vista que Chivalry tinha uma comunidade brasileira forte e atuante, apesar do jogo nunca ter contado com servidores nacionais oficiais. Alguma coisa impede que os jogadores façam a transição daquele para o presente jogo, seja a ambientação muito diferente, o desconhecimento do novo game, o pouco tempo de vida de Mirage ou simples desinteresse. De qualquer forma, é difícil recomendar para meu compatriotas um jogo exclusivamente multiplayer sem uma comunidade local, pois o ping elevado em servidores de outros países compromete bastante a experiência que de outra forma seria fluída e precisa.

mirage arcane warfare
Um retrato dos servidores brasileiros do jogo: sempre vazios

Mirage: Arcane Warfare é um jogo ambicioso executado por desenvolvedores veteranos em um campo dominado por eles próprios. O foco em ataques mágicos e em classes de personagens como em “hero shooters” trouxe novidades muito bem-vindas. Por outro lado, o combate muda muito pouco com o que já estamos acostumados no gênero e, sem as muletas da novidade, é até um pouco inferior ao que já foi feito. Esteticamente bonito e ousado, sofre com problemas de performance ocasionais que precisam ser corrigidos pela Torn Banner. Este é Mirage: Arcane Warfare, uma corajosa tentativa dos desenvolvedores de fazer uma sequência para seu sucesso anterior reinventando-se, ao custo de alienar uma boa parcela da base de jogadores, incluindo, pelo visto, toda a comunidade brasileira.

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{{

game = [Mirage:]

game = [Arcane Warfare]

info = [Lançamento: 23/05/2017]

info = [Torn Banner Studios]

info = [Torn Banner Studios]

plataformas = [PC]

nota = [3/5]

decisão = [Espere a comunidade crescer]

texto = [Um bom jogo]

texto = [mas mais gente precisa saber disso]

positivo = [Novas mecânicas de combate]

positivo = [Classes]

positivo = [Visuais]

negativo = [Combate que deixa a desejar]

negativo = [Performance]

negativo = [Servidores brasileiros vazios]

}}

Pedro Nogueira

Formado em Administração e em GunZ: The Duel. Rei dos FPS e o Toretto dos jogos de corrida no site. O nerd/entusiasta do PC Master Race, responsável por análise de periféricos e hardware. Quebra um galho de streamer lá na twitch.tv/ultimaficha.

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