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Análise: Warcraft III Reforged e o problema da falsa expectativa

Ao invés de trazer de volta um clássico importantíssimo para o mundo dos jogos, a Activision Blizzard erra mais uma vez e deixa os fãs decepcionados.

Para os mais novos: A história de Warcraft não começou com World of Warcraft. O jogo nasceu/se popularizou através de um jogo de estratégia lançado em 1994 – cheio de limitações e problemas. Mas que parando para pensar, serviu de exemplo para quase todos os jogos de estratégia que vieram depois dele.

Warcraft III foi lançado em 2002 com sua famosa expansão sendo lançada no ano seguinte. O jogo se tornou um sucesso em todos os aspectos e era jogado até hoje por vários fãs. Esse sucesso deu origem a World of Warcraft, Dota 2, Heartstone e tantos outros elementos da cultura gamer e pop (até mesmo um longa metragem).

Com a chegada de uma versão remasterizada do clássico Wacraft III e com tantas promessas por parte da Blizzard, os fãs ficaram com o Hype nas alturas e os dias pareciam não passar perto de seu lançamento. Certamente algo épico estaria por vir… e veio – mas não do jeito que esperávamos… Confira nossa análise!

Promessas e mais promessas

Desde sua primeira aparição, Warcraft III Reforged foi demonstrado como uma reestruturação quase que completa do jogo original. Novos vídeos, cutscenes, iluminação, skins das unidades e tudo mais. Um novo jogo, moderno e, o melhor de tudo, lotado de players novamente!

“Personagens e animações totalmente remodelados”, “Mapas e campanhas remasterizados”, “Interface do usuário atualizada e editor de mundos”, “Resolução 4K”. Essas foram algumas das promessas da Blizzard, ao fundo novos vídeos estilo World of Warcraft, iluminação de dar inveja a jogos de estratégia atuais e etc.

O designer-chefe Matt Morris falou que “Uma das coisas que queremos fazer com a nossa campanha é elevar o nível do que as pessoas sabem de World of Warcraft. … Olhando para a campanha agora, queremos os locais dos quais você se lembra e conhece de World of Warcraft. Queremos passar por algumas das histórias e unir as duas franquias de maneira mais rigorosa “.

Já o produtor Pete Stilwell disse que “É extremamente importante para nós acertar primeiro com a comunidade existente e, em seguida, queremos fazer coisas para atrair mais pessoas. … Mas, ao fazê-lo, precisamos garantir que vocês que estão nesta sala, aquele público principal que nunca deixou esse jogo e o ama até a morte, e não quer nos ver mudar tão drasticamente ao ponto de você o reconhecer mais.”

Uma pena que nem tudo que foi prometido foi de fato entregue.

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A entrega de Warcraft III Reforged

Warcraft III chegou no dia 28 de Janeiro, apesar de ter sido prometido para 2019, e pudemos colocar a mão na versão final do game.

Para agradar a todos e não deixar os PCs mais antigos de lado (dos jogadores que jogavam até hoje) a Blizzard deu sabiamente a opção de trocar os gráficos de Reforged de volta para as texturas e modelagem antiga de Warcraft III. Isso sem dúvida ajudou a não dividir os players e buscou integrar os dois públicos.

Esperançosos com tudo que estava por vir começamos nossa jornada pela campanha do jogo.

Campanha de Warcraft III Reforged

Já de início podemos ver que os gráficos de fato foram remasterizados, a resolução está compatível com os monitores atuais e o FPS parece fazer a diferença. Porém, tudo está bem diferente do que foi mostrado nas demonstrações da Blizzard. Entenda, o jogo não está feio, só não está naquele nível!

A ideia de aproximar o jogo de World of Warcraft parece ter sido deixada de lado. As novas cutscenes simplesmente não existem. Apenas vídeos remasterizados, nada refeito como demonstrado. Além disso, só percebemos uma nova CGI em toda a campanha. Que mancada, Blizzard! Por que prometer tanto e entregar tão pouco?!

https://youtu.be/LKte5j3N-fU

A experiência da Campanha continua agradável, mas praticamente temos a mesma dinâmica do jogo clássico em gráficos melhorados. Um Remaster padrão. Isso não deveria ser surpresa e nem um ponto negativo se as promessas não tivessem ido tão longe.

Temos uma ótima dublagem e gráficos que, apesar de não serem os demonstrados pela empresa, agradam e são de fato uma remodelagem do jogo anterior. Como falei antes não existe nenhuma melhora significativa, seja na seleção dos personagens ou em novos ângulos de câmera. Mais uma vez: expectativa x realidade.

E uma outra grande mancada da Blizzard é na parte offline do jogo. A campanha está presente e de certa forma é positiva. Mas é somente isso. Sabe aquele jogo rápido que você colocava contra o PC para se divertir ou então treinar algum tipo de estratégia? Isso morreu. A única forma de fazer isso é através de um Custom game que necessariamente tem que estar online.

Battle.net? Partidas online em Warcraft III Reforged

Logo ao entrar no modo online, a nostalgia bateu forte com suas correntes, músicas e menu. Só o fato do chat estar ativo com várias pessoas interagindo já era o suficiente para me manter motivado com todas as possibilidades.

Como fui jogador assíduo do jogo clássico em 2003, logo de cara senti falta de coisas simples, como o canal BRA-1 o qual era conectado toda vez que entrava no jogo. A lista de usuários online no canto direito não existe mais, o perfil dos jogadores com suas vitórias e derrotas, mensagens no melhor estilo Status do Whatsapp… a Battle.net estava diferente.

A procura por partidas está fácil, descomplicada e através da criação de Party, que você já conhece e é usada em outros jogos dos mais variados estilo, você pode jogar com até 3 amigos. Neste momento você escolhe sua raça e começa a procura por um jogo. O que está até bem rápido, nunca demorei mais que poucos segundos para me juntar a outros jogadores e jogar. E isso de fato funciona muito bem.

O problema é que, para quem já conhecia o jogo (seja porque nunca parou de jogar ou porque está voltando depois de um longo hiato) percebeu de cara que está não era mais a Battle.net que estávamos habituados até semanas atrás. Recursos que foram lançados perto do seu lamento foram removidos da versão moderna, sem substituição. Como entregam um Remaster com menos opções?!

Ao tentar tornar Reforged e o clássico Warcraft 3 compatíveis entre si, a Blizzard tornou o jogo antigo notavelmente pior. Se os jogadores atualizam seus clientes, eles perdem os recursos que possuíam há anos, independentemente de terem comprado o Reforged. Isso inclui os clãs (alguns existentes até hoje, deletados), torneios dentro do próprio jogo e totalmente automatizados, Modo LAN, lista de amigos in-game, Custom games que deixaram de funcionar.

Uma coisa que poderia ter melhorado e na verdade continuou igual foi a questão do ping nas partidas online. Em 2003, 2004 ou 2005, jogar com um Ping de 300 era algo normal. 150 de ping era o auge da conexão daquela época para jogos de estratégia online. Hoje, dezessete anos depois, temos em Warcraft III Reforged o mesmo ping. Ouvi de um amigo que não deixou de jogar o jogo por esse tempo que era falta de costume da minha parte. Mas será que acostumar com o ruim não é só falta de voz?

Custom games – Ponto alto?

Eu joguei Warcraft III por 5 anos seguidos. Sempre fui um jogador da versão original, Reign of Chaos, e usava a expansão Frozen Throne apenas para jogar Custom Games, os jogos criados por jogadores e usuários direto no editor de mundos do jogo.

Nesse editor quase tudo poderia ser criado com um toque de Warcraft: Tower Defenses, Footmen Wars, RPGs, uma versão de Mario Party e o consagrado Dota que você com certeza conhece. Para se defender da perda financeira que a Blizzard teve graças a ideia do Dota ter sido vendida para um concorrente, a empresa criou um novo contrato com os usuários dizendo que tudo que for criado a partir de agora em Reforged pertencerá a ela. Isso não afeta a grande maioria dos jogadores. Porém, somados a todos os outros problemas, a voz dos criadores foi ouvida e à ela foram somadas milhares de jogadores infelizes com o resultado final da remasterização.

Desde o lançamento de Warcraft III Reforged, passo a maior parte do meu tempo no jogo dentro dos Customs. Até hoje temos jogos/mapas/criações extremamente interessantes e muito divertidas de jogar com amigos ou sozinho.

Se você gostava dos customs e tem vontade de reviver grandes clássicos criados pela comunidade, eu acho que você deve pensar com carinho em comprar Warcraft III Reforged. O jogo tem todos os defeitos que você já leu na internet, e por conta deles, a nostalgia e a oportunidade de ver a comunidade ativa como está agora pode não durar tanto tempo.

O problema da falsa expectativa

Se a Blizzard tivesse sido pé no chão com suas promessas, respeitado de fato o jogo e os jogadores antigos e não se comprometesse tanto em agradar no primeiro momento, talvez as coisas fossem diferentes para Warcraft III Reforged (talvez!).

O jogo de fato é um Remaster, temos novas texturas, modelos, heróis e música. Mas não foi no nível que eles falaram ou demonstraram o jogo em 2018 na Blizzcon. Tivemos um downgrade grande nos gráficos e na ganância por um jogo realmente atual. Vídeos que não apareceram na versão final e comprometimento da equipe que foram tratados como se nunca tivessem sido pronunciados.

https://youtu.be/WP6l2b-ab3Q

Isso traz uma frustração muito grande para a comunidade. Imaginar um jogo nota 10 e receber um jogo nota 6, faz ele virar um 5. Porque a decepção toma conta da sua experiência e até o lado bom se esconde atrás dos pontos negativos.

Eu continuo jogando Reforged sempre que possível, não pela Blizzard, mas pela comunidade e pela memória do jogo que um dia Warcraft III foi.

Warcraft III Reforged

Visual, ambientação e gráficos - 6
Jogabilidade - 5.5
Diversão - 5
Áudio e trilha-sonora - 8
Conteúdo adicional - 3

5.5

F

Warcraft III Reforged entrega um remaster seco e capado em seu modo online. Após promessas de uma integração perfeita entre velhos e novos jogadores, o resultado foi uma frustração em massa e um grande protesto da comunidade. Para quem não conhece, o jogo irá divertir e apresentará parte do que foi este clássico dos anos 2000. Os Custom Games estão ativos e são a parte alta da experiência dentro do jogo.

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Bruno Degering

Gamer há tanto tempo que usa consoles como referência cronológica para lembranças de sua vida. Amante de Mega Man, Resident Evil e Warcraft. Se gaba por ter zerado Battletoads aos 9 anos mas abandonou Bloodborne com 26.

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