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Análise: Deck of Ashes é potencial desperdiçado

Jogo peca em seus elementos fundamentais

Já há alguns anos o gênero deck-builder vem recebendo bons jogos, que tentam inovar a já conhecida fórmula de montagem de decks inspirada em clássicos como Magic: The Gathering. Empresas grandes como a Blizzard e a CD Projekt Red investiram maciçamente no gênero em busca de uma parte da fatia desse lucrativo mercado. Entretanto, não devemos nos esquecer de empresas menores, que tentaram chamar um pouco da atenção para si com mecânicas inovadoras. É o caso de Deck of Ashes. Será que o título consegue um lugar ao sol no já saturado gênero? Confira abaixo a resposta na análise abaixo do jogo:

Desenvolvido pela russa AYGames e distribuído pela Buka Entertainment e WhisperGames, Deck of Ashes consiste de um deck-builder rogue-like com elementos RPG. Com uma proposta de progressão que mistura conceitos de Thronebreaker: The Witcher Tales e Slay the Spire, o jogo busca trazer uma experiência um tanto quanto diferente em seu gênero. Um mapa aberto para exploração, misturado com elementos RPG e melhorias através de recursos fazem com que o jogo tenha certo charme.

Uma história de vida bandida

Comecemos pelo início, o enredo. Deck of Ashes conta a história dos Outcasts, um grupo de bandidos que perambulava pelo mundo saqueando, matando e cometendo as maiores atrocidades conhecidas. Quando o rumor de que um artefato místico chamado Ash Box poderia trazer poderes inimagináveis chega aos ouvidos dos Outcasts, eles resolvem ir atrás do mesmo. Após vencer diversas batalhas e desafios pelo Vale da Morte, o grupo se depara com a dona do artefato, a Lady Death. A entidade faz um pacto com o grupo dizendo que entregaria a caixa caso eles a libertassem. Os Outcasts, então, aceitam o acordo, mas a ganância dos seus integrantes faz com que eles briguem pela posse da caixa, que acaba sendo quebrada, lançando uma maldição no mundo. O gameplay de Deck of Ashes é iniciado após este feito. O mundo já está corrompido pela Maldição das Cinzas e cabe ao jogador, utilizando um dos Outcasts da sua escolha, buscar a redenção da sua alma enfrentando criaturas e males diversos pelo reino. 

O mapa do jogo é completamente aberto, assim como em Thronebreaker: The Witcher Tales. Cabe ao jogador escolher seu caminho em busca de batalhas, recursos, dungeons e acampamentos. Cada movimento realizado pelo jogador conta como uma hora in-game. À medida que se explora o mundo e o tempo vai passando, uma barra superior, que demonstra a iminência da chegada de um boss, vai se enchendo. Dessa forma, é de suma importância que o jogador saiba calcular minuciosamente seus passos ao longo de cada mapa a fim de otimizar seus recursos, obter novas cartas, receitas, atributos e itens.

Uma imensidão de recursos

Cada círculo no mapa representa um passo que pode fornecer eventos e diferentes recursos, estes que dão o toque RPG a Deck of Ashes. Há muitos recursos que podem ser utilizados para melhorar atributos, cartas e abrir baús. São eles: 

  • Ash – Utilizado para criar novas cartas
  • Chalice – Utilizado para comprar novas melhorias no Mercador
  • Key – Utilizada para abrir baús
  • Herb – Utilizada para obter vida e poções na Herbalista
  • Ore – Utilizado para obter aprimoramentos no Ferreiro
  • Relic – Utilizada para queimar ou recuperar cartas no Ash Master
  • Gold – Utilizado de maneiras diversas em diferentes NPCs

Há também eventos, que acontecem de forma randômica pelo mapa e podem fornecer qualquer um dos itens mencionados acima, assim como podem iniciar batalhas inesperadas. Aqui jaz um dos principais problemas de Deck of Ashes, sua habilidade para administrar recursos e vencer batalhas é extremamente importante, entretanto, a sorte também tem que estar do seu lado. Não é incomum irmos atrás de eventos em busca de recursos e nos depararmos com consecutivas batalhas, que acabam com seu jogo rapidamente.

Um combate que não engaja

Não devemos nos esquecer do mais importante elemento de Deck of Ashes, seu sistema de combate. Assim como em outros deck-builders, devemos invocar diferentes cartas de acordo com seu custo de mana. À medida que as cartas vão sendo utilizadas, elas vão para o Deck of Ashes, que funciona como um cemitério. A grande diferença é que essas cartas podem ser resgatadas tanto durante as batalhas por meio de cartas que drenam parte da vida do jogador, ou através da tenda de descanso pós-batalha. Aliás, é nesta tenda que se pode gastar pontos de descanso para recuperar vida ou resgatar cartas enviadas para o Deck of Ashes durante a última batalha. Geralmente não há pontos o suficiente para realizar as duas ações, o que faz com que tenhamos que retornar para o acampamento para falar com os NPCs.

Apesar de oferecer uma gama de recursos e um mapa aberto com eventos aleatórios, Deck of Ashes acaba sendo limitado e repetitivo. Após poucas horas de gameplay, tanto as batalhas quanto a exploração do mapa deixam de oferecer elementos inovadores ou descobertas que despertem qualquer vontade de continuar a jornada. Em muitos momentos me peguei em batalhas contra os mesmos inimigos de forma repetida utilizando as mesmas cartas sem nem precisar pensar muito. O jogo peca, inclusive, por oferecer uma gama de cartas relativamente pequena se compararmos com outros deck-builders. Até os combos acabam se tornando manjados após pouco tempo de jogo.

Escolhas de design duvidosas

Quando analisamos a direção de arte de Deck of Ashes vemos alguns elementos que incomodam muito. Primeiramente, apesar de mostrar desenhos até bem feitos, as animações são um tanto quanto datadas, lembrando jogos feitos em Flash em diversos momentos. A interface do jogo, tanto os menus quanto a UI, talvez seja a parte mais fraca do jogo, dando certo ar amador. A trilha sonora e os efeitos de som do jogo também não são memoráveis, além de serem extremamente enfadonhos.

Agora, vale colocar um parágrafo nesta análise para algo que me incomodou bastante. Grande parte das personagens femininas do jogo são extremamente sexualizadas. É impressionante como em 2020 jogos continuem explorando este ponto sem nem refletir sobre a objetificação que é feita através dessas representações. Me senti bastante desconfortável durante o meu teste do jogo pela sexualização extrema dessas personagens, algo que não tem nada a ver com o enredo e proposta do jogo. Bola foríssima da desenvolvedora.

Conclusão

Em suma, Deck of Ashes tenta se destacar no gênero dos deck-builders, mas acaba pecando em seus elementos fundamentais. A repetição incessante da mecânica de explorar, batalhar contra os mesmos inimigos, utilizar as mesmas cartas, colher recursos, melhorar cartas e fazer tudo eternamente cansa. A variedade de decks, personagens, inimigos e estratégias encontrada em outros jogos do gênero inexiste em Deck of Ashes. Por fim, a sexualização das personagens femininas representa um grande erro para a desenvolvedora, que poderia ter focado mais nas mecânicas do jogo do que neste elemento lamentável.

Essa análise segue nossas diretrizes internas. Clique aqui e confira nosso processo de avaliação.

Deck of Ashes

Visual, ambientação e gráficos - 6
Jogabilidade - 7
Diversão - 6.5
Áudio e trilha-sonora - 6

6.4

Bom

Deck of Ashes peca pela falta de variedade e pela repetição de mecânicas e acaba se tornando apenas mais um no já saturado gênero deck-builder.

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Bernardo Cortez

Formado em Relações Internacionais, Bernardo aproveitou o dom de escrever para algo útil. Músico, viajante, cronista e amante de qualquer coisa que seja relacionada a jogos, seu sonho é ser jornalista na área. Tem um carinho especial por jogos que tragam o melhor de todas as formas de arte que os englobam.

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