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Análise: Ghostwire Tokyo erra no gameplay

Veja abaixo a nossa análise de Ghostwire Tokyo:

Quando Ghostwire Tokyo foi apresentado na E3 2019 não ficou muito claro qual seria a temática do jogo. Pelos trailers, a ideia que a Tango Gameworks passava era a de que o jogo teria elementos de ação frenética e terror, e a maior dúvida que pairava sobre o público era o gameplay em si, já que nada tinha sido mostrado até muito recentemente. Quando os primeiros trailers com gameplay de fato foram revelados há poucas semanas, algumas pessoas ficaram um tanto ressabiadas, já que a movimentação e o combate eram bem diferentes do esperado. Para acabar com todas as dúvidas de vocês e também completar algumas coisas que a gente não podia falar nos dois previews que a gente lançou, eu vou falar no detalhe sobre o que achei do jogo, e para já adiantar, eu confesso que o título ficou bem abaixo da minha expectativa. Mas para começar, vamos falar sobre o enredo de Ghostwire Tokyo.

Se preferir, veja aqui a análise de Ghostwire Tokyo em vídeo

O enredo de Ghostwire Tokyo – Análise

O jogo começa com uma cutscene mostrando Akito, o protagonista do jogo, jogado no chão do famoso cruzamento de Shibuya em Tóquio após um acidente grave. Durante esse período de semi-consciência do personagem, um espírito chamado K.K. tenta tomar posse do corpo do nosso protagonista achando que ele estava morto até perceber que Akito ainda estava vivo. Nesse meio tempo, uma névoa misteriosa surge na cidade, fazendo com que todas as pessoas desapareçam completamente com exceção de Akito, que estava nesse limbo entre a vida e a morte. A partir dessa conexão entre Akito e K.K., ganhamos poderes espirituais e começamos a ver espíritos obssessores pelas ruas de Tóquio, que por algum motivo se voltam contra o protagonista.

Preocupado com sua irmã, que estava em tratamento em um hospital na cidade, Akito corre para o encontro dela e encontra Hannya, o vilão que estampa as capas do jogo, a levando por motivos desconhecidos. Coincidentemente, K.K., que é um experiente espírito caçador de outras entidades, também decide ir atrás do vilão e estabelece um acordo com Akito, dando início à parceria entre os dois personagens. Juntos, os dois buscam entender o que está por trás do desaparecimento misterioso dos habitantes de Tóquio ao mesmo tempo em que tentam salvar a irmã de Akito das mãos de Hannya. Eu vou me ater a compartilhar só essa parte da sinopse para evitar estragar a experiência dos acontecimentos posteriores para vocês, mas eu preciso falar sobre a relação de Akito e K.K.

A relação de Akito e K.K – Ghostwire Tokyo – Review

A forma como os dois personagens se desenvolvem na trama é bastante interessante, já que Akito se mostra muito mais empático às dores dos espíritos que ele encontra pelo caminho, enquanto K.K. quase não os trata como pessoas. Ambos são personagens dinâmicos dentro da narrativa do jogo, e as diferentes características, personalidades e histórias de cada um deles se complementam muito bem, sendo um dos pontos fortes do jogo. Akito é muito mais emocional por não ter experiência no mundo espiritual e K.K. é muito mais frio e calculista por conhecer muito bem as entidades. Paralelamente ao desenvolvimento dos dois, personagens secundários relacionados a cada um deles vão surgindo ao longo da trama, com personalidades também interessantes. Junto com a ambientação, os personagens são um dos quesitos mais fortes de Ghostwire Tokyo.

Uma ambientação de primeira linha – Ghostwire Tokyo – Crítica

Como vocês perceberam pelos trailers, a Tango Gameworks trabalhou o máximo possível para trazer lugares reais de Tóquio ao jogo, assim como vários elementos da cultura e do folclore japonês. Ao mesmo tempo em que podemos circular por lugares famosos da cidade, como o próprio cruzamento de Shibuya, também nos deparamos com entidades conhecidas do folclore japonês, os famosos Yōkai, que vão de Tengus a Kama-Itachis e Nekomatas.

Todos eles são muito bem representados durante o jogo, tanto os bons quanto os ruins, e é muito interessante aprender mais sobre as ricas histórias do folclore japonês adaptadas para o ambiente moderno e urbano de Tóquio. O próprio jogo se dá ao trabalho de explicar e mostrar no glossário de criaturas o porquê da existência de cada uma e o que elas representam dentro do imaginário japonês. Ao mesmo tempo, o título também faz outras referências à cultura japonesa, com obras de arte conhecidas do Japão espalhadas como colecionáveis e comidas diversas, que recuperam a vida do protagonista. Caso você seja um entusiasta da cultura japonesa, Ghostwire Tokyo é um prato cheio.

Uma confusão de modos gráficos – Ghostwire Tokyo – Análise

Se o jogo acerta muito na sua ambientação, na referência à cultura e folclore japoneses e na relação entre Akito e K.K., ele erra bastante no mais importante, o seu gameplay, mas antes de me aprofundar nesse quesito, deixa eu só tirar a parte técnica da frente. O jogo tem seis modos gráficos, que podem confundir muito os jogadores, comecemos com os dois básicos, que são o Modo Qualidade e o Modo Desempenho. O primeiro foca em trazer a melhor experiência gráfica a 30 FPS, com uma resolução que tenta chegar o mais próximo possível de 4K e ray tracing de reflexos em objetos específicos. Já o segundo remove o ray tracing para trazer uma experiência a 60 FPS fluida.

Depois desses, temos mais dois modos, que podem ser habilitados com Vsync ou não, totalizando seis. O primeiro é o modo Qualidade HFR, que roda com as mesmas configurações do modo Qualidade, mas removendo o limite de frames. Isso faz com que o jogo rode entre 30 e 50 FPS dependendo de cada cena. O segundo é modo Desempenho HFR, que roda o jogo com a mesma qualidade gráfica do modo Desempenho, mas removendo totalmente o limite de frames. Para isso, o jogo habilita o modo 120 FPS, caso a sua TV o tenha, permitindo que a taxa de frames varie livremente.

Esse foi o modo que escolhi para jogar, já que eu priorizo a maior taxa de frames possível, mas eu já deixo aqui o aviso de que a variação de frames é monstruosa em certos momentos. Foi possível perceber quedas de 120 FPS para algo em torno de 60 FPS nos momentos mais pesados. Considerando o fato de que o PS5 ainda não tem suporte a taxa de atualização variável, essas quedas são bastante perceptíveis e podem incomodar alguns jogadores. Vale deixar também outra nota bem importante sobre o ray tracing que o modo Qualidade implementa. Pelos testes que eu fiz, os reflexos em tempo real se aplicam somente às poças no chão, não estando presentes nos carros e outros objetos reflexivos. Além disso, as sombras em Ray Tracing prometidas para a versão de PC do jogo não me parecem estar habilitadas no PS5. Dessa forma, o modo Qualidade acabou sendo o pior de todos para mim, já que o ganho nos reflexos das poças não compensa a perda de performance.

Um gameplay pouco refinado – Ghostwire Tokyo – Review

Muita gente achava pelos trailers que o jogo seria frenético, com o personagem tacando poderes, prendendo espíritos e correndo pelo mapa, e eu fico triste em informar que a jogabilidade de Ghostwire Tokyo é o inverso disso. O jogo é bastante lento e possui um sistema de combate extremamente limitado. O personagem se move de forma excessivamente cadenciada e os inimigos também não têm uma movimentação muito complexa. A maioria deles simplesmente anda na direção do personagem, esperando para serem eliminados com facilidade. O mais bizarro é que alguns parecem ter sido desenhados com uma jogabilidade bullet-hell em mente, já que eles soltam umas esferas de energia que flutuam lentamente na direção do jogador. O problema, é que não há um dash para poder dar alguma dinamicidade a essas situações, e é preciso simplesmente andar lentamente para o lado para fugir das esferas.

Aliado a isso, temos uma mecânica de poderes do protagonista muito limitada, sem combos ou qualquer complexidade. Em 99% das situações, o jogador precisa soltá-los de forma repetida e lenta na direção dos inimigos até que o núcleo deles seja exposto para que então seja possível fazer um movimento com as mãos que parece um jutsu de Naruto. Aliás, mesmo esse movimento é um tanto quanto inútil, já que ele só recarrega um pouco de vida do personagem ao custo de uma animação lenta que deixa Akito exposto aos outros inimigos. Na maioria das situações, vale muito mais a pena soltar mais um poder para eliminar o espírito inimigo de vez. O jogo traz também uma árvore de melhorias para o personagem e suas habilidades, o que poderia ajudar nesse quesito, mas mesmo esse sistema é limitado, modificando muito pouco a forma como o combate acontece. Para piorar ainda mais essa parte do gameplay, temos três pontos que pecam bastante: os puzzles que se resumem a apertar botões, as batalhas com chefes mal elaboradas e as missões secundárias.

Os erros de design – Ghostwire Tokyo – Crítica

Começando pelos puzzles, eu honestamente não entendi qual foi a intenção da Tango Gameworks de colocar árvores pelo mapa que supostamente deveriam bloquear os caminhos do personagem em troco de algum desafio ou quebra-cabeças. Ao invés disso, só é preciso apertar quadrado para revelar o núcleo da árvore e soltar um poder para destruí-lo. É isso, não há qualquer dificuldade. Seguindo para as missões secundárias, temos aquela velha e antiquada fórmula que serve somente para encher linguiça. Todas elas se resumem a buscar algum item, achar alguma entidade ou matar todos os inimigos de uma área. Para fechar, temos as batalhas contra os chefes, que são muito mal desenhadas. Para exemplificar, há uma batalha contra um dos chefes do jogo na qual a entidade fica andando em círculos pelo mapa e tudo o que temos que fazer é andar atrás dela sem fazer barulho e apertar L2. Não há qualquer dificuldade, e a experiência de enfrentar chefões, que normalmente traz um desafio maior que os inimigos normais, é completamente destruída. A sensação é que o time da Tango Gameworks poderia ter trabalhado melhor todos esses elementos.

A direção de arte de arte e as funcionalidades no PS5 – Ghostwire Tokyo – Análise

Partindo para a direção de arte do jogo e as funções de nova geração no PS5, temos novamente um misto de sensações. Os gráficos oscilam muito entre cenários muito bonitos e bem trabalhados a áreas extremamente repetitivas do mapa semi-aberto. À medida que vamos purificando os portões Torii pela cidade, vamos abrindo missões e regiões novas em Tóquio, com florestas, templos, áreas urbanas, residenciais e industriais. Tudo é bem representado, como as conhecidas lojas de Shibuya que tocam músicas chamativas nas suas vitrines para chamar a atenção dos pedestres, ou a fatídica Tokyo Tower. Além disso, algumas missões específicas da história são muito bem dirigidas, nos colocando em corredores que vão se modificando de forma bem estilosa à medida que Akito se locomove. Agora, ao mesmo tempo em que temos essas situações bem dirigidas, também há cutscenes que contam com gráficos não tão bem trabalhados e que parecem até bastante datados. Esses altos e baixos na direção de arte deixam a experiência inconstante, e acabam por minar os visuais do jogo em vários momentos.

Com relação às melhorias de nova geração, novamente a sensação deixada é a de que o jogo perdeu a chance de brilhar. Na parte do DualSense, temos um bom feedback háptico e retorno nos gatilhos, que acontece sempre que soltamos algum poder, absorvemos espíritos ou atacamos uma entidade. Além disso, diversos diálogos acontecem na TV e no microfone do controle ao mesmo tempo, trazendo um efeito etéreo para as vozes dos espíritos. Agora, falando sobre os carregamentos, novamente temos uma experiência mista. Todos são bem rápidos, então não precisamos esperar muito para de fato começar ao jogar o jogo. A grande questão é que há algumas áreas do mapa com carregamentos que atrapalham a fluidez do jogo, mesmo que rápidos. Tecnicamente, o jogo poderia carregar todas as áreas do mapa de uma vez quando clicamos em Novo Jogo ou Continuar, mas por escolhas de design da Tango Gameworks, temos uma tela de carregamento ao invés disso. Novamente, esse problema não chega a ser insuportável, já que as telas são breves, mas o ritmo do jogo é quebrado.

Conclusão – Ghostwire Tokyo

Para concluir esta análise, Ghostwire Tokyo traz uma experiência incostante, com acertos na ambientação e na narrativa e erros muito grandes no gameplay e mecânicas. A sensação que temos ao zerar o jogo é que a Tango Gameworks tinha a faca e o queijo na mão para fazer um grande título, mas acabou errando em elementos básicos que acabam tornando o jogo enfadonho e repetitivo. Eu não diria exatamente que Ghostwire Tokyo é um jogo ruim, mas ele certamente não vai ser lembrado como um grande lançamento de 2022. Caso você seja um aficcionado pelo folclore e cultura do Japão, vá fundo e explore esse mundo, caso contrário, eu diria para você esperar uma boa promoção se realmente quiser jogá-lo. Para finalizar, o jogo conta com uma excelente dublagem em português do Brasil, além de uma maravilhosa dublagem em japonês caso essa seja a sua preferência.

A análise de Ghostwire Tokyo segue nossas diretrizes internas. Clique aqui e confira nosso processo de avaliação.

Ghostwire Tokyo

Visual, ambientação e gráficos - 8.5
Jogabilidade - 6.5
Diversão - 7
Áudio e trilha-sonora - 6.5

7.1

Bom

Ghostwire Tokyo acerta na sua ambientação e referências ao folclore japonês, mas erra bastante no seu gameplay repetitivo.

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Bernardo Cortez

Formado em Relações Internacionais, Bernardo aproveitou o dom de escrever para algo útil. Músico, viajante, cronista e amante de qualquer coisa que seja relacionada a jogos, seu sonho é ser jornalista na área. Tem um carinho especial por jogos que tragam o melhor de todas as formas de arte que os englobam.

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